Fugindo do anonimato
Uma das grandes angústias da modernidade é a busca pelo sucesso pessoal. Qual é o meu papel no grande esquema de Deus? O que devo fazer para ser reconhecido pelos meus pares? Há uma missão especial para mim? Ninguém gosta de passar invisível por esta vida, de ser condenado ao anonimato. Ninguém quer ser representado pelo túmulo do soldado anônimo, mas reconhecido como herói de guerra. Todos querem estar no palco, fazer parte do show, conquistar seus "quinze minutos" de fama.
Nesta busca desenfreada pela relevância social você pode perder sua alma. Do que adianta conquistar o mundo inteiro e perder a sua alma? O sucesso embriaga e vicia. Cada vez precisamos de mais, num círculo vicioso que nos leva através de um turbilhão ao mundo do ostracismo, egoísmo e hedonismo. Pensamos em seguir o coelho num mundo de maravilhas, mas somos como cães seguindo suas próprias caudas.
Oh Deus, quais são os meus limites? Quais são os caminhos que o Senhor tem preparado para minha vida? Se for o anonimato dá-me um espírito quieto para aceitá-lo.
Perceba que, apesar de sustentar todas as coisas com a força do seu poder, Deus tem se mostrado anônimo na história dos homens. Considerando o tempo da humanidade, foram poucas as manifestações divinas (teofania), ainda que, quando elas aconteceram, mudaram o curso da história. O único e verdadeiro Deus nem é tão popular entre os homens que ele criou. E ele está preocupado com isto? Creio que não. Chegará o tempo em que todos precisaram reconhecer que Jesus Cristo é o Senhor. Mas hoje Ele trabalha anonimamente entre os homens. Não é visto, mas sua voz é manifesta. Não é tocado e nem faz entradas triunfais, mas se manifesta secretamente nos corações, convertendo aqueles que aceitam abrir a porta ao que bate.
Deus dá um show cada manhã e a cada por do sol. Mas não está preocupado se vai receber aplausos por isso (ainda que Ele os mereça) e concede as bênçãos diárias independe do merecimento dos homens.
Então por que nós, meros mortais, criaturas com existência limitada estamos constante em busca de reconhecimento? O pouco que fazemos precisa ser ovacionado? Aí dos que estão por perto e não nos dão o necessário louvor. Serão tidos, em curto espaço de tempo, como ingratos, injustos, ignorantes e invejosos.
A busca por reconhecimento e relevância começou antes da fundação do mundo. Foi Lúcifer, o anjo mais poderoso criado por Deus, quem fez os primeiros planos para subir no palco. Ainda que ele tivesse a função mais relevante entre os seres até então criados, achou necessário subir um pouco mais. Ele dizia em seu coração: Subirei aos céus, erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; que me assentarei no monte da assembléia, no ponto mais elevado do monte santo. Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo (Isaías 14.13-15). Esta loucura pela relevância o fez perder o seu posto e ele foi banido da presença de Deus e reservado para a condenação eterna no Inferno, onde ele será lançado, no tempo de Deus, com os anjos que o seguiram.
No Jardim do Eden Adão e Eva não foram tentados, se não pela busca da relevância. O Diabo (Lúcifer) os seduziu com a mesma proposta que criou para si: sereis semelhantes a Deus. Nossos pais (e nós neles) aquiesceram ao desejo e viram que o fruto proibido era desejável para se obter conhecimento. O veneno do orgulho campeou seus corações e eles saíram expulsos do "anônimo" Jardim do Éden para o palco do mundo. Estavam garantidos muitos séculos de fama. Seus nomes entraram para a história.
Mas, o legítimo proprietário do Trono, Aquele é que o resplendor da Glória de Deus; a expressão exata de Deus; a imagem do Deus invisível fez o caminho inverso. Possuidor da semelhança com o Pai não se apegou a este fato e caminhou para o anonimato, esvaziando-se a si mesmo, tornando-se homem, humilde, obediente e servo (Filipenses 2.5-8). Poucas pessoas (a maioria convocada por Deus) estiveram presentes num dos maiores espetáculos: o nascimento do Emanuel (Deus Conosco), Jesus Cristo o Filho de Deus. Foi um nascimento anônimo. Sua adolescência e juventude foram numa esquecida e desprezível cidade, donde nada de bom vinha. Quando passou a pregar, aos 30 anos de idade, poucas pessoas se animaram a seguir o carpinteiro (profissão bem discreta). O anonimato foi a marca de sua vida. Não tinha onde repousar sua cabeça. Vivia de favores dos outros. Sua morte (ou sacrifício pelos homens) não foi acompanhada por muitos, de forma que poucos soldados foram suficientes para garantir a segurança.
Ainda que Jesus seja todo relevante, Ele não buscou fugir do anonimato que lhe foi imposto. Como poderemos seguir os seus passos se, a todo o momento, buscando a relevância, o destaque e o aplauso. É tempo de que a nossa alegria seja que Ele cresça e nós diminuamos para que Jesus seja por todos conhecido.
A relevância não está no sucesso; está em conhecer a Deus. Nele podemos nos gloriar e deixarmos de ser anônimos, pois seremos dEle conhecidos.